As receitas monetaristas de Keynes não funcionam? Os bancos centrais não sabem que fazer? Os mercados estão com síndrome pré menstrual? O que se passa com o mundo, que o seu dinheiro está louco?
Tal como na publicidade, nos mercados financeiros, há muita coisa estranha a acontecer, pois há cada vez menos gente virgem do conhecimento que se deixa enganar com uma simples patranha de caça-turistas. Antigamente, quando as pessoas eram arbustos presos ao chão, havia tanta gente sem experiencia de vida que era fácil encontrar um turista suficientemente ignorante para comprar a Torre Eiffel, o Terreiro do Paço ou mesmo um pedaço de queijo da Lua.
Com o tempo, com a dispersão da informação, foi-se tornando cada vez mais difícil encontrar gente tão impreparada para lidar com as novidades do mundo. Com a rapidez de uma lebre as pessoas revestiram-se de uma carapaça de tartaruga, protegendo-se (muitas delas já depois de escaldadas) dos contos do vigário, dos truques de ilusionismo e das simples patranhas bem falantes.
Quando o seu grupo alvo é suficientemente impreparado, assim ao nível de uma senhora do campo vestida de preto, com a lenha à cabeça ou de um boy partidário sentado num lugar de administração monopolista, os vendedores de banha da cobra têm a vida facilitada. Basta aos artistas do engano dizer que vêm da parte da Segurança Social, ou que estão a fazer sensibilização ambiental com rebranding de valores no logotipo que os pobres ignorantes lhes passam todo o dinheiro dos subsídios que têm acumulado debaixo do colchão, para as notas irem fazer uma verificação lá na sede.
Mas o rádio, a televisão e horror dos horrores, a internet, tornaram a informação estupidamente acessível (ou seja, acessível até aos estúpidos) tornando a actividade de enganar o próximo muito mais complexa, arriscada e falível.
Os bancos centrais, agora não podem mais baixar os juros para estimular a economia. Porque se baixam os juros estão a admitir que há problemas e se há problemas então mais vale a quem tem dinheiro muda-lo para uma economia de crescimentos altos.
Os anunciantes já não ganham nada com a notoriedade, ainda que (as seen on TV) os consumidores prefiram um mal conhecido a um bem que nunca viram, com a informação disponível, tudo pode ser conhecido. Em igualdade de informação, o bom produto ganha e o mal, o mau produto, está feito.
O mundo passou por alguns milénios de informação restrita e conhece apenas uma mão cheia de anos do contrário. A maior parte das pessoas ainda não se apercebeu de tudo quanto se sabe, que já não há segredos, que o simples recolher de uma informação não tem valor e que o conhecimento acumulado não é uma vantagem. Bastaria observar a adesão das massas às religiões para perceber que a maior partes das pessoas não é muito inteligente. Na verdade metade das pessoas tem um QI abaixo de 100.
Só que, mesmo esses que são estúpidos, agora podem saber tudo. Podem saber os podres de uma guerra lá no Afeganistão, podem saber que os governos dos PIGS não conseguem controlar os seus gastos, podem saber que os bancos gastam em vez de guardar o dinheiro que lá é depositado. Como podem saber tantas coisas, como sabem o mal que estas coisas lhes fazem, acabam por ganhar defesas e tornam-se enfim mais difíceis de enganar.
Se fossem inteligentes, não precisavam de tanta informação, bastava-lhes saber fazer e ter feito as contas. Mas para todos os efeitos, a informação agora está disponível e os estúpidos, nem que seja por instinto de protecção, deixaram de acreditar porque não conhecem.
Deixaram de acreditar que é possível gastar mais do que se ganha e como tal deixam de querer emprestar dinheiro a um governo de subsidio-dependentes que não trabalham. Deixam de acreditar que as pessoas se preocupam com outra coisa que não seja o dinheiro que ganham e portanto não compram um produto só porque o viram anunciado. E assim deixam os mercados nervosos e os publicitários de mãos atadas, sem perceberem que os seus miseráveis truques de ilusionismo serviam apenas para aplicação em festas infantis.
Para o ano, o mundo não vai parar, a informação vai estar, mais ainda, estupidamente acessível e com isso vamos continuar a constatar que:
- As ideias não têm valor, só a execução.
- Os conteúdos não têm valor, só o suporte
- A comunicação não é diferenciadora, só os produtos
- Os segredos morreram, mais vale ser honesto
- Os direitos de autor não são aplicáveis, tudo se copia
- Ninguém paga para ouvir, todos pagam para falar
- O passado morreu, o futuro é já amanhã.