Domingo, 16 de Janeiro de 2011

Ser super-heroi é uma seca

 

No futuro todos vão ter vários super-poderes, incluindo a capacidade para ler pensamentos.  O que vai ser uma bela chatice. Pois já não bastava ser quase imortal e ter de gramar com 50 anos de velhice economicamente inviável, agora vamos ter saber do que vai na cabeça dos outros.

 

Infelizmente, na prática, os super-poderes não são bem aquilo que se poderia esperar deles, têm uns efeitos secundários algo desagradáveis. Até mesmo a super promissora visão raio-x, que usada para o bem poderia desembaraçar de tanta roupa pouco reveladora, é na pratica confrontada com as carnes moles da obesidade galopante.  O mesmo tipo de desapontamento que parece estar reservado ao super-poder que mais depressa se anda a banalizar. Saber o que os outros pensam, não será tão agradável como parece.

 

Para começar, o que os outros pensam raras vezes vai alem da banalidade mal informada e mal formada.  Condenando quem lhes conhece a alma a uma série de desilusões, a mais grave das quais é não ter vontade de lhes comprar o que quer que seja. Sabendo o que pensam os vendedores, quem lhes compra os presentes envenenados como carros em segunda-mão, contas bancárias sem fundo, produtos de marca e serviços com responsabilidade social?

 

Explicando na teoria, temos o seguinte. Boa parte das teorias intervencionistas sobre os mercados partem do princípio que a informação é assimétrica e portanto as transacções imperfeitas. Pois, se uma parte sabe bastante mais que a outra, tirará partido dessa vantagem para obter para si  uma transacção mais favorável. Usando o seu conhecimento extra para convencem os ignorantes a coisas que lhes são prejudiciais, como por exemplo, a depositar dinheiro num banco que gastou os valores dos depósitos anteriores em ordenados milionários de pessoas que pintam lojas de cor-de-rosa.

 

Ora, a internet torna toda a informação imediatamente disponível, nivelando o nível de conhecimento entre as partes e tornando as transacções mais equilibradas. Pior, a internet tira espaço à aplicação da ancestral manha do vendedor de banha da cobra.

 

Imagine-se o seguinte, um leitor está no souk de maraquesh e perde-se de amor por umas artesanais pantufas de ponta arrebitada. O normal nesta situação seria seguir-se uma absurda discussão em que o turista seria confundido com câmbios impossíveis e respostas indignadas até exercer o seu direito imperialista de oferecer o salário de um mês do vendedor como quem deixa gorjeta num café. Ora, dentro de pouco tempo um qualquer Goggle de Google vai permitir ao turista saber qual o preço pago por cada pessoa que por ali anda ao engano, qual o preço médio e também o preço mais baixo. Sabedor desta informação, conhecedor do que pensa o vendedor de pantufas, o negócio faz-se e decorre com toda a magia que teria se as pantufas fossem compradas no Lidl.

 

Este é portanto o efeito da abundância de informação. Torna as transacções simétricas. Leva à inoperância alguns truques de negócios que os senhores do milénio passado davam por adquiridos. E lança um mercado onde:

 

-       A diversificação perde efeito

-       A escala não acrescenta

-       O engano não dura

 

A ver vamos.

publicado por Consumering às 09:41
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1 comentário:
De JR a 16 de Janeiro de 2011
resta saber o que farão as massas para manter/proteger a "saudável ignorância"...

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