Terça-feira, 8 de Março de 2011

Onde está o dinheiro?

 Imagine que, por algum acaso da sorte, ou sorte do acaso, tem acesso ao usufruto de uma máquina de fazer dinheiro. Uma geringonça, mais ou menos bem oleada capaz de fabricar sem esforço o vil metal pelo qual se mete em tantos trabalhos.

Postos perante semelhante circunstâncias, a maior parte de nós teria nesse momento a moderação de um Mugabe, a discrição de um Kadafi, a simpatia de um Kim Jong Il. A maior parte de nós iria perder a cabeça, e entregar-se ao usufruto cada vez menos razoável dessa maldita benesse de poder fabricar dinheiro.

 

Na verdade, são muito poucas as pessoas que seriam capazes de resistir a semelhante tentação. Basta ver as barbaridades de que são capazes os ditadores com apenas uma dúzia de anos de casa. É suficiente atentar no luxo idiota em que vivem os cantores de Hip-Hop, futebolistas e outros fenómenos cuja popularidade está condenada a ser breve desde a partida. Não é preciso mais do que ver como são geridos os bancos, para perceber o estrago que se faz quando se tem acesso a uma máquina de fazer dinheiro.

 

Sim, os bancos, esses mesmos monstros confiáveis onde as pessoas se habituaram a guardar dinheiro. São na verdade instituições vitimadas por privação de bom senso tal que as torna incapazes de aguentar uma auditoria minimamente saudável. Isto porque os bancos, donos de uma máquina de fazer dinheiro, há muito que deixaram de se preocupar com o dinheiro que têem e passaram a gastar abertamente os valores que os seus clientes lhes pedem para guardar.

 

O mal vai muito além da gritante ineficiência operacional dos bancos. Os milhares de funcionários com funções pouco claras. Os processos diabolicamente retorcidos e imobilistas, as regalias absurdas dos seus gestores, os direitos intermináveis dos seus trabalhadores, os horários de trabalho muito reduzidos, as instalações do bom e do melhor. Todo o desperdício que está à vista já já de si suficiente para fazer um pobre desconfiar, mas o pior é que está coberto apenas com uma camada de truques básicos somados à revelia da matemática.

 

Verdade. Os bancos ignoram o dinheiro que gastam em despesas operacionais, chamando-o de activos e usando o activo para pedir dinheiro emprestado no caso de alguém vir pedir de volta. O funcionamento dos bancos é verdadeiramente assustador para quem teve a má ideia de lá guardar algum dinheiro:

-       Consideram as agências “activos”,em vez de assumirem os custos de ter uma sucursal vazia com empregados desocupados.

-       Encomendam estudos (caros) para lhes dizer que o dinheiro que gastaram em publicidade (cara) fez subir o valor da marca (que ninguém compraria) e portanto acreditam que esse dinheiro gasto afinal ainda está escondido na marca.

-       Emprestam ainda mais dinheiro a empresas falidas (como a Papelaria Fernandes) apenas para não terem de admitir que essas nunca irão devolver o dinheiro emprestado.

-       Avaliam coisas sem valor comercial (como a sede da CGD) em valores assombrosos

-       Consideram lucro variações fictícias do preço de coisas que não compraram nem venderam.

-       Pedem dinheiro a preços superiores ao que emprestam (o BES emitiu obrigações perpetuas a 8,5% quando parece emprestar a 4%)

 

 

Todas estas habilidades misturadas fazem dos bancos verdadeiras máquinas de fazer dinheiro. Capazes de gastar como quem tira água de um poço sem fundo. Levando-os à inevitável alienação da realidade, mitomania e comportamento autofágico que afecta a todas as pessoas que tocam prolongadamente nessas máquinas.

 

O complexo de Midas que afecta os bancos resultou em algumas das organizações mais perdulárias, ineficientes e preguiçosas das economias modernas. Males que têm vindo a ser disfarçados com mercados limitados por reguladores coniventes (não deixando haver mais bancos a concorrer) constantes fusões e reestruturações (com maiores oportunidades para fabricar dinheiro).

 

Ocorre que os bancos chegaram ao ponto 2B2F (too big too fail) não podem mais fundir-se para disfarçar problemas operacionais tornando-o proporcionalmente ao seu tamanho relativamente pequeno. Por outro lado os mercados estão muito mais abertos e apesar de as regulações nacionais se esforçarem por manter protegidos da realidade os seus monstros contabilísticos, é cada vez mais difícil impor fronteiras e em breve será impossível. Nesse dia, muita gente vai descobrir com dor que não é possível uma operação tão ineficiente ser rentável e os bancos gastaram o dinheiro que lá foi depositado.

publicado por Consumering às 01:04
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