A matemática não perdoa. Dentro de muito pouco tempo, talvez ainda este ano, o Euro (pelo menos nos PIIGS) terá um colapso quase-fatal no qual as suas economias endividadas vão cair num default real. Um episódio que, por sua vez, arrastará o perdulário sistema bancário europeu para perdas épicas.
Contrariamente ao que se possa imaginar, nada disto será catastrófico a ponto de colocar em causa o mundo como o conhecemos. Quando a poeira assentar, vai-se descobrir que as pessoas continuam a querer viver melhor, o sistema bancário é muito menos útil do que se quer fazer parecer e a dívida não é criação de riqueza. Mas até lá, vai ser muito difícil suportar a correção.
O ajuste que se seguirá ao colapso do Euro dos PIIGS será longo e doloroso. Os governos da UE vão se apostar, como agora e até à última, em adiar o inevitável. Ficarão assim, até que for tarde demais. Só então passarão ao estágio seguinte da governação: o salve-se quem puder. Durante todo este tempo, políticos e situacionistas manterão o dedo apontado a quem estiver de fora (especuladores, agências de rating e quejandos) apenas para desviarem das suas consciências o peso da sua própria responsabilidade.
Mas o ajuste vai ter se realizar. As economias europeias vão ter de desmamar uma quantidade de gente pouco ou nada qualificada com rendimentos demasiado altos e com demasiadas garantias vitalícias. Vão ter de ajustar a riqueza de cada um ao que consegue produzir. Vão ter de tornar as suas produções competitivas. Pois o mundo não deixará de ser global só porque é desconfortável para quem vive demasiado bem.
Enquanto um chinês trabalhar por muito menos dinheiro do que um europeu, os empregos vão atravessar o mundo em busca de produtividade real. Assim, o processo de empobrecimento da Europa só terminará quando os Europeus deixarem de ser menos produtivos que os Chineses. Será um processo longo e com vários obstáculos.
Infelizmente, o que poderia ser o maior contributo para uma nivelação suave da competitividade mundial, o enriquecimento dos chineses, estará limitado pela escassez de recursos, principalmente da energia. Com o petróleo que há hoje, os chineses não podem todos ter um carro e como tal, para se nivelar a produtividade real entre chineses e europeus, os europeus vão acabar por abdicar dos seus próprios automóveis.
Não parece que esteja ao virar da esquina uma nova fonte de energia abundante e comparativamente barata. Então, sem a energia necessária para enriquecer os chineses, serão as classes improdutivas da europa que vão empobrecer até ao ponto de diluírem a sua abundância excessiva. Num processo de estagnação à japonesa, que se pode arrastar por décadas ou mesmo gerações.
Durante a correcção, quem se vai safar serão duas classes de pessoas. Quem tiver petróleo ou gás, pois tem na mão a chave do equilíbrio de produtividade. Ou quem for suficientemente produtivo para poder triunfar do outro lado do mundo. Será injusto, mas apenas na riqueza que decorrer das reservas naturais de energia. Os demais biliões de humanos, estarão entregues a si próprios e à sua capacidade para ganharem dinheiro.
Não contem com os governos, nem com os sistemas bancários, nem como os políticos, nem com a kindness of strangers. Sempre que os tempos apertam, cada um cuida de si e as coligações só servem para excluir os estranhos. Se alguma solução houver, ela está na competição. O endividamento colectivo que sustem o actual desnível de produtividade este-oeste está a chegar ao fim. Com o incumprimento da Grécia, ou da Itália, que estão apenas adiados e inevitáveis, acelera-se o processo de correção de competitividade. Onde quem vive à conta, vai ficando progressimente mais pobre.
Para sobreviver num mundo mais plano, será preciso ser competitivo. Será preciso que cada pessoa (sem recurso ao crédito) consiga criar riqueza suficiente para sustentar os seus 3 ou 4 dependentes não produtivos (crianças, reformados, doentes, funcionários públicos). Ou por outra, será preciso que esses indivíduos não produtivos encolham as suas necessidades de suporte na proporção de serem sustentados por uma só pessoa. Ou uma combinação dos dois, até ao equilíbrio em que quem produz não esteja sufocado por quem consome.
O consumo dos outros mantem-se como a única real forma de riqueza. Com ou sem crise de crédito, as pessoas querem iphones e a Apple fará fortunas a vender o que todos os querem comprar. O mesmo para a Zara, para o Ikea e para todos os outros produtos e serviços cuja superioridade é reconhecida pelos consumidores do mundo. No futuro essa será a única e derradeira fonte de competitividade, melhores produtos, ou a capacidade de fazer melhores produtos, reconhecidos pelo mundo.
O resto, as ilusões do valor, dos monopólios e carteis mal disfarçados, das decisões por compadrio e das compras com subsídios. Aquilo que compõe mais de metade da presente actividade da Europa. Estão condenados a empobrecer, esvaziando-se progressivamente, até ao ponto em que o custo que tem, não será mais um peso para o mundo. Quando as despesas improdutivas (como tudo o que é subsidiado) forem apenas uma gota no oceano, enfim deixarão de emagrecer. Até lá, e ainda falta muito, haverá um longo e doloroso empobrecimento ou ajuste, para usar uma terminologia mais amigável.
A nível individual, uma vaga recomendação. Afastem-se o mais possível dos subsídios e rendimentos garantidos. Pressuponham que tudo quanto é direito adquirido só irá emagrecer e procurem por rendimentos globais e livres. Não é uma receita de execução simples, não há uma bimby para a economia caseira. Mas é a única solução: Poupar. Vender Euros. Exportar. Emigrar. Estamos todos avisados.