Domingo, 3 de Maio de 2009

Jornalismo elevado ao estado de arte

Há, hoje em dia, mais cavalos nos estados unidos do que haviam no final do séc. XIX.  100 anos depois dos cavalos terem perdido a sua função utilitária (que era vital como força motriz no transporte, no combate e na agricultura) os cavalos são hoje em dia um puro hobby para os americanos. Podia-se pensar que a perda da utilidade tinha condenado os cavalos ao desaparecimento, ou pelo menos os tivesse tornado mais raros. Nada disso, os cavalos, que actualmente cumprem funções de puro entretenimento, são hoje em dia mais numerosos nos EUA do que alguma vez foram no passado.

 

Ao fim da sua utilidade pragmática, a indústria equestre reagiu com a elevação da equitação ao estatuto de arte e entretenimento. Movimentando muito mais dinheiro do que antes imaginava. O modelo de negócio é no entanto radicalmente diferente. Há cento e picos anos o dono do cavalo era dono de um activo e podia contar com um rendimento mais ou menos certo. Em resultado, o valor da indústria equivalia ao valor combinado de todos os cavalos. Hoje em dia, substituído pelo motor de explosão e com a equitação transformada em entretenimento, o dinheiro flui ainda em quantidade, mas no sentido contrário. Um simples dono de cavalo tem agora despesas, com a manutenção e aperfeiçoamento. Despesas que alimentam uma imensa indústria de serviços ao proprietário de cavalos, uma indústria que por sua vez, concentra riquezas quase obscenas nos poucos tocados pelo destino que constituem a elite dos campeões.

 

O que isto tudo tem a ver com os Jornalistas? Simples, tal como os cavalos e os músicos e os pintores, e os desportistas, o jornalismo está em vias de se tornar uma arte passar a ter a estrutura económica de todas as artes. No topo, haverá uma elite de campeões, com um estatuto de celebridades, super-ricas e apreciadas. No meio, uma poderosa indústria de equipamentos e serviços que alimenta os super-ricos enquanto se alimenta da base. A base é composta multidões de pequenos praticantes que se dedicam à tarefa por gosto pessoal ou por ambição mal direccionada, mas que não se importam de investir pequenas quantias para fazer parte do todo. Por fim os espectadores, que  seguem os campeões entusiasticamente mas que o seu valor económico é 10 vezes ou 100 vezes menos do que o dos praticantes. Se duvidem questionem-se porque é que os milionários do golfe podem comprar uma equipa de futebol?

 

O que é que tem isto tudo a ver com os jornalistas? Simplesmente o jornalismo perdeu a sua função utilitária. O acesso à informação não é mais escasso e qualquer pessoa pode ser um jornalista, basta manter um blog. Mais, a capacidade de fazer chegar essa informação ao público já não está limitada aos grandes jornais e hoje em dia qualquer amador pode andar de megafone a espalhar os seus factos. Basta ter um blog. Privados da escassez que dava ao jornalismo uma utilidade, os jornais e revistas do mundo antigo estão condenados a emagrecer. Toda a indústria dos meios sofre de um emagrecimento violento que vai deixar de pé uma minoria de agentes sem expressão. No final restará a arte.

 

A elite dos jornalistas que à escala global consegue influência (os Jon Stewarts de amanhã) serão fabulosamente ricos e poderosos. À volta deles, haverá uma indústria que presta os seus serviços de distribuição, manutenção, formação a uma multidão de opinadores voluntários. Esses serão os jornalistas, gente que paga para exercer a sua actividade. Entretanto, os empregos n o jornalismo desaparecerão com a passagem da actividade ao estado de arte.

 

Nota final - Quem está a pensar pagar uma hipoteca com o jornalismo, por favor, pense melhor. 

publicado por Consumering às 22:48
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