Para algumas pessoas, chamemos-lhes idiotas, todas as ideias são boas, como se estas ideias se medissem aos quilos, ou às dúzias. Estes idiotas, pensam mais ou menos assim: se são precisas ideias, para que haja inovação e se a criação é feita a partir de ideias, então com mais ideias, cria-se mais, inova-se mais. Vai daí têm uma ideia, fixa: ter muitas ideias, variadas, e tratam de perseguir a sua ideia, criando programas de inovação, caixas de sugestões e sessões de criatividade, entre outros meios destinados a libertar o potencial de idiotice que há nas organizações.
Por outro lado, quem não for idiota, percebe facilmente que as ideias não são todas iguais e que há umas que são as boas ideias e outras que são más ideias. Quem não for idiota, também percebe que ter mais ideias não significa ter melhores ideias. Mais ainda, quem não for idiota chega até a ter razões para suspeitar que as boas ideias podem não estar no meio de muitas más ideias.
O que talvez não esteja ao alcance de todos é perceber que as ideias não têm qualquer valor e como tal não têm grande utilidade. Não há de ser uma ideia (no sentido de crença) popular, isto de que as ideias não têm valor. Mas os factos estão aí para o comprovar. Atente-se primeiro no processo de criar ideias, para logo depois se explicar de onde vem a tal herege conclusão de que as ideias não têm valor.
Quem percebe de ideias (no sentido de pensamento) sabe que as ideias são o resultado de combinação de informação até aí desconexa. Por vezes chamada de inspiração, a ponte que liberta os sumos criativos, não é mais do que o bombardeamento dum assunto com factos, na tentativa de provocar uma fusão nuclear de conceitos.
Ora, antigamente, no milénio passado, quando a informação era escassa, ter ideias era dificultado pela falta de factos que cada um dispunha para combinar. Com poucos factos era difícil fazer muitas combinações, tornando as ideias relativamente escassas. Mas então veio a internet e toda a informação passou a estar imediatamente disponível. Por ser muito fácil, deixou de ser importante, de ter valor, a actividade da recolha dos factos. Passando todo o valor, para o que se tornou relevante, a distinção entre as ideias. Então temos que, por um lado, as ideias são facilmente geráveis, pela profusão de informação que as gera. Enquanto por outro, a quantidade de ideias não é qualidade e pode até dificultar a separação do trigo e joio. O valor das ideias deixa de estar no acesso às ideias, para passar a estar na avaliação das ideias.
A total disponibilidade dos factos, a matéria prima das ideias, permite uma multiplicação das tais ideias, com a consequente redução do seu valor. Quer seja pelo aumento da oferta, quer também pela dificuldade de processamento dessa oferta. Perdem assim valor as ideias, ganha assim valor a avaliação das ideias.
Podemos ir mais longe: o que é uma boa ideia se não uma ideia cuja aplicação foi bem sucedida? Será que uma ideia vã, que não é consequente, num ambiente em que há muitas ideias, se pode considerar uma boa ideia? Claro que não. Está portanto visto que uma ideia só é boa se tiver aplicação, empurrando o valor ainda para mais tarde, para a execução. Chegamos ao ponto em que as ideias não têm valor, pois o que tem valor é a sua implementação, se bem sucedida subentenda-se.
Em contra-ciclo, os idiotas que por aí andam, parecem cada vez mais preocupados com a criação, a criatividade e as ideias. Está certo que ninguém disse que esses idiotas eram muito inteligentes ou que eles percebiam o que se estava a passar à volta deles. As ideias, são como os chapéus, há muitos, ó palermas!
Em resumo: Essa ideia não vale nada. As ideias são tantas que só têm valor as que são implementadas, e com sucesso. Esta desvalorização das ideias, até à total perda do seu valor intrinseco, é apenas e só mais um dos sinais da revolução tecnológica por que o mundo está a passar. A revolução de um modelo de caçador-recoletor de informação, para o produtor de conhecimento.